Confissões de um viciado em e-mails


Você dá por si a consultar os seus e-mails a toda a hora? Já pensou para pensar que poderá estar viciado nisso?

Michael Inzlicht é um professor assistente de Psicologia e Neurociência na Universidade de Toronto, Canadá, atualmente em licença sabática na Austrália, que confessou num impressionante artigo publicado no site theglobeandmail.com que é viciado em e-mails.

O professor confessa que este seu vício de ler e responder a mensagens por e-mail tem afetado a sua saúde e o seu trabalho.

Leia o seu impressionante testemunho que traduzimos em exclusivo aqui para o HojeDescobri.com:



Olá. O meu nome é Michael e eu sou um viciado. E por viciado não quero dizer que adoro demasiado algo para me afirmar como tal. Não sou viciado em chocolate, nem toxicodependente.

Qual a minha droga? E-mail.

Preciso de verificar o meu e-mail de 5 em 5 minutos. Preciso de fazer isto de manhã, à tarde, ao fim do dia, à noite, às 4 da madrugada.

Quanto mais o faço, mais quero fazer, e nunca é suficiente.

Estou em sérios sarilhos. Como professor univesitário de psicologia e neurociência eu sei que não sou o único. Muitas, muitas pessoas sofrem deste problema característico do século 21.

Novas pesquisas efetuadas na Universidade de Chicago, por exemplo, sugerem que os fumadores têm mais dificuldade em resistir ao seu impulso de verificar a sua conta do Twitter (o primo direito do e-mail) do que a sua vontade de fumar.

A empresa alemã da marca automóvel Volkswagen, por exemplo, talvez notando o impacto do uso abusivo dos e-mails, restringiu o uso dos telemóveis dos seus funcionários durante o horário de expediente.

Um artigo recente publicado em jornal New York Times destaca uma nova tendência dos ricos e famosos em pagar quantias avultadas só para ter o privilégio de viajar para estâncias de luxo que restringem o acesso aos e-mails.

Tal como qualquer outro viciado, o meu hábito é rodeado por todo o tipo de gadgets, desde as janelas pop-up nos meus computadores, até às notificações sonoras no meu iPhone. Estou sempre ansioso e quando deteto texto avisando-me de uma nova mensagem sinto logo uma sensação de euforia.

Se você lutou contra uma dependência reconhecida, estas palavras podem ofendê-lo, ou até minimizar a sua experiência. Essa não é a minha intenção. Em vez disso, considere-me um guerreiro, um defensor de uma nova causa.

Apesar do DSM-IV (a bíblia da Associação Americana de Psiquatria) não reconhecer a dependência de e-mails como uma aflição real, é apenas uma questão de tempo. Eu tenho tido sintomas de angústia fisiológica ao receber novas mensagens de e-mail. A minha lista de sintomas inclui aumento da transpiração, da pressão arterial e frequência cardíaca, uma reação de sobressalto exagerada e uma incapacidade de me focar em outras coisas.

A única coisa que suaviza este meu estado biológico aversivo é verificar os meus e-mails imediatamente no preciso momento em que o começo a sentir. Tudo o que estava a fazer até esse momento ou alguém com que tenha estado a falar, simplesmente deixou de me importar.

Ironicamente, este meu comportamento destrutivo tem vindo a afetar a principal atividade que era suposto ajudá-lo - o meu trabalho. Em vez de ler livros e artigos, perco tempo a ler e a responder a e-mails. Em vez de escrever, perco tempo a ler e a responder a e-mails. Não consigo parar de ler e responder a e-mails.


Onde vou parar com tudo isto? À falta de qualquer tratamento convencional para este meu vício (não existem centros de reabilitação de luxo para celebridades para onde possa ir) decidi conceber o meu próprio remédio de desintoxicação. Tive a feliz oportunidade me concederem uma licença sabática na universidade e decidi usar parte do meu tempo fora no estrangeiro para umas férias prolongadas sem e-mails. 

Gostaria de vos dizer que consegui ultrapassar as forças sobrenaturais que me compeliam a consultar a toda a hora os meus e-mails, mas estaria-vos a mentir. Acabava por arranjar justificações a mim próprio para conferir as mensagens. No entanto, não fracassei completamente. Conseguir ficar ausente dos e-mails durante três dias.

Desliguei os infernais avisos sonoros do meu iPhone e nos vários laptops. Reorganizei os ícones das minhas aplicações de e-mail no meu desktop de forma a ficarem pouco visíveis e, o mais importante, decidi verificar as minhas mensagens apenas de 5 em 5 horas. Isto tem sido bastante difícil para mim, mas tenho conseguido manter o meu regime - mais ou menos.

Não consigo expressar verdadeiramente o quanto estes pequenos passos têm sido gratificantes para mim. De repente, fiquei com tempo para fazer coisas que gostaria, como ler. E como tenho sentido saudades da leitura. Também tenho encontrado tempo para estar presente, e não ausente, com a minha família.

As coisas estão a melhorar, mas sei reconhecer o fácil que seria voltar atrás novamente. E também reconheço que será mais difícil assim que regressar da minha licença sabática e enfrentar a panóplia de tecnologias. Mas estou esperançoso.



Fonte consultada para este artigo:
Confessions of a e-mail addict

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